História do Rincão – Elza de Mello

Para falar do Balneário Rincão, colocando-o numa data histórica, é preciso ir além na história do município de Içara. É necessário uma retomada de 4000 a 2000 anos, com base no sítio arqueológico pré-cerâmico, o homem dos Sambaquis.

O sítio Arqueológico foi construído por um grupo de caçadores e Coletores pré-históricos, que instalaram sua aldeia sobre dunas, ali vivendo dos recursos de caça, pesca e coleta de moluscos e vegetais. Uma amostra de materiais líticos, compostos por  lascas fragmentadas de polidores e seixos com cavidades polidas marca a presença humana  em toda a área do município do Balneário Rincão.  Além disso, desde 1560, europeus e índios vagavam pelas costas das praias, que oferecia um itinerário seguro.

Para datarmos o Balneário  Rincão numa época precisa ao povoamento do litoral, vamos ao ano de 1676, quando Francisco de Brito Peixoto fundou Laguna, a grande sesmaria que se estendeu por todo o sul de Santa Catarina. Em 1715, Francisco de Brito Peixoto recebeu ordens  do governador do Rio de Janeiro, Francisco de Távora, para que se abrisse um caminho terrestre , ligando Laguna à possessão portuguesa, a Colônia de Sacramento. A grande epopeia teve o comando de João de Magalhães que em duas expedições sucessivas conseguiu realizar o trabalho.

Essas incursões  estabeleceram núcleos de povoamento, travando relações amistosas com os índios e passando por toda a orla marítima até ao extremo sul apoiando-se em dois objetivos: a) a política expancionista da Coroa Portuguesa; b) a sobrevivência da economia paulista com a aquisição do gado bravio dos pampas e a presença humana marcando a posse das terras do domínio português. Assim coube a Capitania de Santa Catarina duas bases de penetração ao Sul pois em 1735, o sargento-mor José da Silva Paes incumbiu  Cristovão Pereira de Abreu e Francisco Bandeira para a abertura do caminho de Laguna ao Rio Grande de São Pedro.

Em 1737 o vice-rei do Brasil, Gomes Freire de Andrade, em ofício à Câmara de Laguna ordenou que se fizesse arrematar os passos dos rios Araranguá e Tramandaí em favor dos cofres de Laguna, estava incluída as margens da barra velha do Araranguá, hoje a povoação de Barra Velha. 

Em 1738 Laguna foi desmembrada da Capitania de São Paulo e o sargento José da Silva Paes  agraciado com o título de Brigadeiro, foi nomeado primeiro governador da vasta região Sul, indo até a Colônia do Sacramento. E foi o Brigadeiro José da Silva Paes que deu sustentação ao projeto de trazer para a Província de Santa Catarina os casais açorianos para o aceleramento da povoação e da colonização efetivando a ocupação do sul meridional em favor da Coroa Portuguesa.

Assim, no percurso de 1748 a 1753, levas de casais açorianos, depois de passarem pelo posto de triagem, na vila do Desterro partiram com destino para ocupar as suas sesmaria, documentadas. Por preferirem a segurança  das vias terrestre, desceram costeando a orla marítima fazendo pouso e ocupando rincões desabitados.

No século XVIII a localidade de Urussanga Velha foi povoada e, naturalmente, o mar era caminho de idas e vindas entre o Sul e outras regiões do País. Balneário Rincão teve o seu povoamento pensado pelo Brigadeiro José da Silva Paes com o projeto das sesmarias para a emigração dos casais açorianos. Em 23 de julho de 1770, podemos registrar João da Costa Silveira como sesmeeiro da data de terras que se estendia entre os rios Urussanga e a barra velha do Araranguá[1].

As sesmarias foram sendo parceladas com diferenciações de tamanho. Todo espaço dado como devoluto era propriedade do governo e iam para novos leilões. As sesmarias eram medidas do litoral para o interior, contavam-se duas léguas em quadro para um quinhão familiar. E foi esse sistema de sesmarias que deu ao Balneário Rincão a sua origem fixada, primeiramente no povoado de Urussanga Velha, espalhando-se para outras localidades adjacentes até a ocupação do centro do Balneário Rincão, a cidade sede do município. Em documentos oficiais encontramos a denominação de Rincão Comprido para a área urbana, mas na oralidade o povo sempre a denominou de Praia do Rincão.

Quando o lagunense Jerônimo Francisco Coelho (1806-1860), que havia sido deputado provincial de Santa Catarina (1835 a 1847), assumiu a presidência da Província de Rio Grande do Sul (abril de 1856 a março de 1857), enviou uma correspondência ao Presidente da Província de Santa Catarina, João José Coutinho, sugerindo que fosse realizado um trabalho conjunto das duas províncias para abrir uma estrada entre Laguna e Porto Alegre. O governo catarinense ficaria responsável em construir três casas de pousos (Camacho, Rincão Comprido e Lagoinha – atualmente em Balneário Arroio do Silva) e instalar seis passagens de rios (SANTA CATARINA, 1857).

Assim que deixou o governo gaúcho, Jerônimo Coelho, por ordem do Presidente da Província do Rio Grande do Sul, Patrício José Correia da Câmara, foi designado para viajar até Laguna com o objetivo de iniciar os trabalhos de construção das casas de pousos, balsas e abertura da estrada. No dia 31 de janeiro de 1858, o 1º Tenente Engenheiro Sebastião Antônio Rodrigues Braga, assumiu os trabalhos. Após concluir as obras da casa de pouso no Camacho, Braga seguiu em direção ao sul, 12 léguas (58 km), onde instalou em Rincão Comprido no dia 25 de fevereiro de 1858, dando início a construção da casa de pouso e de quatro ranchos para aquartelamento, depósito de mantimentos e ferramentas (BRAGA, 1858).

As obras eram realizadas por soldados da Guarda Nacional, “africanos livres” e escravos oriundos do Arsenal do Rio de Janeiro. No dia 16 de julho de 1858, o 1º Tenente de Engenheiro Sebastião de Souza e Mello assumiu os trabalhos, ficando até 22 de novembro de 1859. Francisco Carlos de Araújo Brusque comanda os trabalhos de Rincão Comprido até 27 de setembro de 1860, quando os trabalhos são “encerrados”. A casa de pouso no Rincão Comprido foi entregue para sua conservação a Candido Silveira de Mattos, onde fundaria uma futura hospedaria. Em 21 de fevereiro de 1865, foi solicitado por Sebastião de Souza e Mello ao governo provincial catarinense recursos para conclusão das obras da casa de pouso do Rincão Comprido.Na cartografia do século XIX encontra-se o nome de Rincão Comprido em três mapas.

O primeiro é de 1816, e que está disponível no Arquivo Histórico do Exército no Rio de Janeiro, intitulado “Continuação do mapa da Estrada da Corte do Rio de Janeiro para a Capitania do Rio Grande de São Pedro até a Vila de Porto Alegre”, detalha o caminho do litoral entre Porto Alegre e São José da Terra Firme mostrando rios e lagoas. Entre os rios Urussanga e Araranguá temos as seguintes lagoas: Mãe Luzia, Anastácio (atual Esteves), Faxinalinho (atual Faxinal), Rincão Comprido, Mãe Damiana (atual Freitas) e Urussanga. O segundo mapa, de 1842, é a “Carta Corográfica da Província de Santa Catarina”, disponível no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, elaborada por José Joaquim Machado de Oliveira, mostra que entre os rios Urussanga e Araranguá, localizava-se o Campo do Francês, com as lagoas da Mãe Luzia, Anastácio, Faxinal, Rincão Comprido, Cômoros (atual Freitas) e da Urussanga.

Por fim, na “Carta Geográfica Representativa do Traçado do Canal Príncipe Dom Affonso da cidade de Laguna a Porto Alegre”, de 1887, elaborada por Eduardo José de Moraes, disponível na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, aparece novamente as lagoas dos Esteves (antiga Anastácio), Faxinal, Rincão Comprido e Estalagem (atual Freitas). Portanto, a Lagoa do Rincão Comprido, já aparece na cartografia do século XIX (1816, 1842 e 1887) onde ficam as lagoas do Rincão e do Jacaré, nas redondezas do atual município de Balneário Rincão. (Contribuição do pesquisar e professor Alcides Goularte)

Assim, o primeiro abrigo construído no Rincão, que se tem notícia, foi a Casa da Nação, como o povo local se referia a casa de pouso. Uma construção feita em pedras e óleo de baleias, erguida entre o Capão dos Papagaios com a extinta lagoa dos Papagaios e a lagoa dos Freitas (lagoa Mãe Damiana). Na Casa da Nação o viajante do mar pernoitava ou a comitiva real descansava as montarias, quando passava em inspeções das tropas do sul. Ali o camareiro e o cozinheiro real, que acompanhava a comitiva, davam assistência ao Imperador com mais conforto e havia acesso à água  potável.

O caminho do mar era o único itinerário seguro e a Casa da Nação foi construída por escravos (alguns já ficaram aqui,  homiziados), soldados e homens livres da Capital da Província, Rio de Janeiro. Além da Casa da Nação, na Praia do Rincão, havia no Morro dos Conventos uma espécie de quartel, com guarda montada e armamentos prontos para entrar em ação. Era todo um aparato de fortaleza para as situações inusitadas, caso precisasse de um reforço bélico.

Mais tarde Manoel Ignácio Nascimento e Valeriano Recco, moradores dos Ausentes, construíram um rancho de pesca de pau-a-pique, coberto de palhas, próximo ao arroio. O rancho servia para descansar as tralhas e acender a fogueira, nas noites de pescarias, ou abrigar-se dos temporais. Quase na mesma época um casal fixou-se na praia do Rincão, morando num casebre coberto de achas de madeira. Pouco tempo depois o marido abandonou a morada, e a esposa foi morar em Urussanga Velha, retirando-se de tão erma morada.

Os habitantes de Urussanga Velha, Pedreiras, Rio Acima, Faxinal, Ausentes, lagoa do Zé Réus e demais localidades, desfrutavam do mar para a sobrevivência, mas mantinham suas residências além das lagoas, onde as terras eram próprias para a agricultura. Plantavam a mandioca, e transformavam-na em farinha nos engenhos, além da cana com que faziam o açúcar, e do algodão para os tecidos de teares.

 Por toda a costa da praia, viajantes iam e vinham a pé, ou em carretas puxando as safras para o porto de Garopaba. As diligências que iam ao Rio Grande do Sul, ou para a Capital da Província, cruzavam quase que diariamente o caminho do mar. Além dos Batalhões que subiam ou desciam, conforme os ânimos do povo gaúcho e dos tropeiros dos campos da Vacaria, que conduziam o gado, costeando a orla marítima.

Com a exploração do carvão e o crescimento do município de Criciúma, a praia do Rincão ganhou o conhecimento das pessoas mais abastadas que passaram a vir em passeios, para os banhos de mar. Logo, a seguir, tornaram-se veranistas em temporadas, procurando as brisas marítimas. Mas um problema sério impedia o acesso à praia, as dunas que não davam passagem aos veículos. Os ventos levavam-nas em voos constantes, tornando a estrada intrafegável por serem as areias sem constâncias.

Criou-se então uma espécie de posto de passagem para os veranistas, próximo à Lagoa dos Freitas. Famílias já instaladas ali como Luís Fernandes e Vital Mariano, guardavam os automóveis, e as pessoas seguiam a pé, acompanhando a mudança que seguia em carro de boi. Nesta época procurava-se todo tipo de solução para conter as areias do caminho. Uma das soluções foi a esteira tecida com junco, ou as taipas tecidas com palhas que eram colocadas sobre as dunas para impedir que o vento levantasse as areias. A estrada também era coberta com juncos; porém nada continha a dança das dunas e as areias invadiam o caminho, desafiando o trabalho de Vicente de Jesus e Antônio Pereira (encarregados das esteiras ).

Dizem, em pesquisa oral, que um navio perdia-se no mar. Sentindo-se naufragar, em uma noite de terrível tempestade, jogou no mar a carga de madeira que trazia. Eram pranchões, e deram à costa. Então a Marinha, por intermédio do senhor Osvaldo da Cruz,[2] doou-os para que fossem utilizados como esteiras, mutáveis nas travessias dos carros. Só assim os carros puderam chegar às residências dos veranistas.

 Para manter as esteiras, pagava-se um pedágio que ficou por  responsabilidade de Gustavo Osório dos Santos, admitido como funcionário da prefeitura municipal de Criciúma. E então, por volta de 1914, estabeleceram-se habitantes fixos na Praia do Rincão: Vicente de Jesus, responsável pelas esteiras, Antônio Machado (capelão da capela N.S. dos Navegantes), Rafael Viscardi (carpinteiro), Osvaldo da Cruz comerciante, Luiz Fernandes. Todos eram pescadores e trocavam com as comunidades agrícolas o excedente de seus pescados fora da temporada de verão.

Posteriormente vieram outros habitantes e entre eles o Sr.José Búrigo com comércio no ano de 1946 e logo em seguida vendeu para Jacó Víctor Cruz, morador de Pedreiras e trabalhador da prefeitura municipal de Criciúma. Vital Mariano, morador da Lagoa dos Freitas. Estes estão entre os primeiros moradores. Mais tarde, outras famílias se instalaram com comércio, vindos, geralmente, da Mineração de Içara: as sesmarias, juntamente com aposentados das minas de carvão, crescendo o contingente do Balneário Rincão.

Os primeiros veranistas a construírem residência, e a adotarem o Rincão como praia de banho foram: Addo Caldas Faraco, Elias Angeloni, Bepe Casagrande, Jorge Carneiro, Marcos Rovaris, Massueto Costa, Heriberto Hülse, Abílio Paulo, Leandro Martinhago, Adamastor Rocha, Gervásio Teixeira Fernandes, Rosalino Damiani; entre outros.   

 Em 1943 foi construída a primeira igreja da Praia do Rincão, feita em regime de mutirão e com ajudas arrecadadas pelo Sr. Euzébio Vila Nova. Era uma pequena igreja de madeira e com chão de terra-batida. Mais tarde reformou-se e colocou-se assoalho, escolhendo por padroeira Nossa Senhora dos Navegantes, por ser uma comunidade pesqueira.

Esta capela ficou pertencendo a Paróquia Nossa Senhora das Dores, do município de Jaguaruna, até a criação da Paróquia São Donato de Içara. Alguns anos mais tarde foi construída em alvenaria uma segunda capela, com a ajuda financeira encabeçada pela senhora Cândida Rovaris, esposa do sr. Abílio Paulo e tendo como construtor o sr. David Cont. Capela que foi desativada em 1985, com a construção da terceira e última capela que foi zelosamente acompanhado pelo Sr. Manoel Hipólito da Silva.

A nova capela em tamanho maior, abriga os fiéis que na temporada de verão  tem um número muitas vezes somados, e procuram o conforto da religiosidade. A capelinha anterior foi tombada como patrimônio Histórico e Cultural, no ano de 1988, e no ano de 1997 foi inaugurada como Museu Arqueológico N. Sra. dos Navegantes.

O museu guarda um pouco da história da humanidade, especialmente a história do homem do Sambaqui. A antiga capelinha de madeira foi aproveitada como primeira escola, a Escola Isolada do Arroio Rincão, tendo como professora Joana da Rosa dos Santos, seguida da professora Maria Machado. Mais tarde, com o crescimento da população foi construída uma nova escola em alvenaria. Atualmente a escola com o nome de E.E. B. Melchiades Espíndola, situada na zona central do Balneário Rincão.

Em 1933, com a elevação da localidade de Urussanga Velha a Distrito, Rincão passou a ser administrado pelo Intendente Gervásio Teixeira Fernandes que residia em Pedreiras. Entre  outros, teve o Sr Pagani como quarteirão; designado para manter a ordem e a paz no povoado. O Sr. Jacó Victor Cruz seguiu como quarteirão e mais tarde o Sr. Teodoro Lino.

Em 21/12/51, Rincão foi considerado área de repouso e perímetro urbano pela lei n º 70, na administração do prefeito de Criciúma, o Sr. Paulo Preis. Rincão, praia do município de Criciúma tomava ares de balneário, com uma população ativa no período de recesso escolar.

A população de Criciúma passava a temporada do verão em férias, permanecendo na localidade. As estradas precárias não permitiam as idas e vindas como acontece nos dias atuais. Assim, os veranistas passaram a contribuir com a construção da capela, abastecimento d’água e obtenção da energia elétrica; entre outras melhorias.

 Por volta de 1960, quando foi solada a estrada, com barro e pirita, o Balneário Rincão teve um crescimento explosivo. A pesca passou a ter venda certa  para a peixaria de Alcebíades Madeira, no centro de Criciúma.  Madeira comprava todo o pescado e o que não podia levar na hora, pagava as mulheres para limpar e salgar.

O pescador, de redes ou tarrafas, ia para o mar enquanto a mulher e os filhos maiores iam para a casa de pesca, limpar o peixe, fazer o filé, separar o peixe grado do miúdo, salgar ou descascar mariscos para os mercados. Foi o apogeu da pesca do Rincão. Pouco tempo depois os barcos pesqueiros passaram a lançar grandes redes em alto mar, a pesca artesanal ficou escassa, caindo a casa dos pescados.

Balneário Rincão, não tendo barra nem enseadas que dê maneiras à operação de barcos, não pode desenvolver uma pesca mecanizada. A plataforma é utilizada para as pescas de lazer e não como atividade econômica. Os rincoenses mantém ainda o hábito da pesca de tarrafa, espinhél ou redinhas, porém como preservação de traços culturais e para o consumo familiar.

 Com a estrada solada, ainda na administração do município de Criciúma (Içara era Distrito), era preciso manter uma estrutura para os veranistas das temporadas do Balneário Rincão.   As casas foram construídas próximas ao arroio  que leva as águas das lagoas dos Freitas, Jacaré e Rincão para o mar.

Não chega a formar uma barra, mas dá vazão às águas, drenando os banhados, numa extensão de 15 km em toda Bacia do Arroio Rincão. O Arroio é hoje um risco azul em meio ao casario que ocupa as duas margens, testemunhando o crescimento contínuo do Balneário Rincão, que se torna conhecido internacionalmente por suas belezas naturais.

Mas, para que o Balneário Rincão crescesse, muitas pessoas trabalharam com afinco. Dispondo de poucos recursos administrativos, tudo era feito mais à base de mutirões. Ficaram registradas organizações como a Cooperativa d’água, uma sociedade entre moradores, veranistas e comerciantes, que pegavam água da Lagoa do Rincão, depositando-as em uma  grande caixa d’água no alto do capão. 

No dia 29/12/67, o prefeito Ângelo Lodetti, com a Lei n.º118, autorizou ao poder executivo de Içara, a aquisição da Cooperativa dos Amigos da Praia do Rincão, com uma quota no valor de NCR$ 1.080,00 (Um mil e oitenta cruzeiros novos). Já estava difícil a administração da Cooperativa por particulares, devido aos veranistas estarem ausentes uma boa parte do ano. Com a explosão demográfica do Balneário Rincão, a Cooperativa passou para a CASAN que, em seguida tornou-se autônoma com a rede de abastecimento e tratamento d’água para a Lagoa do Faxinal, por ter mais volume de água e poder abastecer até o centro de Içara. Atualmente o SAMAI é o distribuidor de água no Balneário Rincão.

Outra conquista importante foi a eletricidade que começou com uma Cooperativa. Dois motores a gasolina produziam energia elétrica das 19:00 até as 23:00  horas na temporada do verão. A Cooperativa foi organizada por Jorge Fredinberg, engenheiro da Companhia Próspera. O Sr Jacó Víctor  Cruz era o responsável pela energia, e o gerador  estava instalado aos fundos do Hotel Atlântico, de sua propriedade. João eletricista fazia a manutenção da rede. Mais tarde o Sr. Abílio Paulo, junto com moradores e outros veranistas fizeram um movimento e passaram para a Cooperativa de Eletrificação de Içara.

A principal atividade econômica do Balneário Rincão sempre foi a pesca artesanal que no início do seu povoamento era trocada, em engenhos das localidades vizinhas por farinha de mandioca, feijão e outros gêneros que compunham a alimentação da família.     

Na época de inverno, as famílias atravessavam as lagoas e rumavam para os engenhos, trabalhar com os familiares, ou como diaristas nas roças arrancando e carregando mandioca para os engenhos. Com as construções de casas de veranistas, os moradores passaram a fazer trabalhos remunerados de pinturas, retelhos, carpintarias, pedreiros etc., que ajudava no orçamento familiar, mudando o seu estilo de vida.

Balneário Rincão, habitado inicialmente por descendentes de famílias açorianas, tinha como hábito alimentar o pescado com peixes na brasa, ensopado ou em caldos, acompanhado de pirão d’água ou de feijão. Outros frutos do mar como: siris e mariscos (maçambiques), que eram abundantes, também acompanhavam as refeições que se compunha de almoço, janta, merenda e ceia. No dia-a-dia, os homens faziam ou consertavam suas tarrafas, redes, cocas, coves e jiquis; empatavam os anzóis nos espinheis, faziam os balaios e samburás para buscar os mariscos  ou levar as tralhas da pescaria. A mulher do pescador limpava os pescados, fazia as refeições, lavava as roupas no arroio, cuidava das crianças enquanto esperava o marido das horas de pescaria.

Aos domingos, marido e mulher iam à capelinha para o terço rezado pelo zeloso capelão, Antônio Machado. Na quaresma havia as vias-sacras, as confissões e comunhões quando a pequena população fazia sua Páscoa. Dia 02 de fevereiro, dia dedicado à padroeira da localidade, havia a festa com novenas de preparação. Os veranistas, quase sempre festeiros e noveneiros, empenhavam-se nas festas com serviços de aviãozinho, bazar, arrematação de prendas e santa missa, deixando impressos na fé a marca de sua contribuição para o Balneário Rincão.

Nos meses do outono até a primavera, os veranistas retiram-se  e a população do Balneário passa a viver a rotina de localidade praieira que, por alguns meses tem uma super população. Mas na, maioria dos meses do ano há presença de aposentados que voltam ao Rincão com a saúde já deficitária, para gozar dos benefícios de ares saudáveis nos 12 km de praias. 

Balneário Rincão é hoje uma bela cidade, com seus 7 km de perímetro urbano, e sede do município. Limita-se ao norte com Içara; ao sul com Oceano Atlântico e o município de  Araranguá; ao leste com o município de Jaguaruna e Oceano Atlântico; ao oeste com Içara.

Um dos problemas  do Balneário Rincão é a baixa altitude, estando ao nível  do mar, com uma pequena elevação nas sequências de morros que separa a planície Litorânea da planície  Central, onde marca limite com o município de Içara. Além do Balneário Rincão, o balneário Barra Velha apresenta o mesmo problema; o lençol freático está quase ao nível do solo, inundando diversas áreas do perímetro urbano.  Com as chuvas, o nível do arroio fica aumentado, as águas entram pelas ruas, principalmente no inverno quando o vento sul represa as águas nas barras do Torneiro e Barra Velha, fazendo subir o arroio com o pouco escoamento de suas águas.

Com o lençol freático tão saliente, difícil se torna o saneamento que precisa de muitos quilômetros para dar vazão aos detritos sem afetar as águas das lagoas e do mar. Os esgotos das residências, principalmente de prédios de apartamentos e hotéis, tornam-se dispendiosos e quase impossíveis de não se tornarem poluidores. 

Balneário Rincão é caracterizado por terrenos de cobertura sedimentar cenozóica, composta por areias quartzozas médias com depósitos fossilífero formado no pleistoceno, em ambientes marinhos de águas rasas e ambientes lacustres.

No aspecto estrutural, o Distrito do Rincão está enquadrado nas características de Depósitos Eólicos, resultantes de depósitos marinhos mobilizados pelo vento (dunas). A granulometria é bem uniforme, de areia fina à areia média. Não tem consolidação na escala geológica. Tem formação recente do período quaternário.

Depósitos lacustres ocorrem na faixa das lagoas. A granulometria predominante nestes trechos é de areia grossa com grande quantidade de material orgânico, sendo de formação quaternária. Nas sequências de morros, entre o litoral e a Planície Central, ocorre a formação Itapoã,  marcando os limites entre o Balneário Rincão e o município de Içara.

A vegetação nativa do Distrito do Rincão está incluída no macrossistema vegetal Mata Atlântica (hoje extinta), com variante na parte litorânea, a leste das lagoas que se inclui como vegetação de dunas, compreendendo as areias intercaladas por uma vegetação baixa que formam os capões com predominância de juncos e espécies lastradeiras em toda faixa litorânea. Como maiores elevações conhecidas e nominadas, temos o Capão dos Papagaios que teve este nome devido ao ninhal de papagaios, no século XVIII, junto à lagoa do mesmo nome soterrada pela erosão eólica no início do século XX. O Capão do Alfaiate, que recebeu este nome devido a morte de um mascate alfaiate.

O Capão do Tesouro onde dizem haver um tesouro enterrado no tempo da retirada dos jesuítas das missões do Morro dos Conventos e o morro do Urubu em Pedreiras. São elevações ainda bem pronunciadas, resistindo a erosão eólica e as passagens das areias jogadas ao sabor das brisas marinhas, ou às fúrias dos ventos.

Na área do Balneário Rincão estão as lagoas:

 da Urussanga Velha e o povoado do mesmo nome;

o Faxinal e a Lagoa do mesmo nome com o reservatório e tratamento de água do SAMAE; o RESORT BONGAIVILLE; Camping PARQUE VERDE; Camping LAGO AZUL.

A Lagoa dos Esteves com o Campestre IAT CLUB; Pontal da Lagoa; Camping IRMÃOS SILVA; Lagoa da Velhinha; Lagoa do Mussulini e o sítio Arqueológico SC-IC-01; a

Lagoa dos Freitas com um bairro que vem crescendo ultimamente, além das

lagoas do Rincão e Lagoa do Jacaré no centro do Balneário Rincão.

 Ao sul está o Balneário Barra Velha, quase desconhecido ainda pelos turistas. Faz divisa com o município de Araranguá tendo como limite a barra Velha do Araranguá.

No verão as lagoas são muito procuradas pelos turistas, que acampam nos meses de veraneio.

A educação no Balneário Rincão tem o acompanhamento da Secretaria de Educação Municipal, que tem como Secretária a Senhora Maria Canever  e da GRED de Criciúma. Na área do Distrito temos a EEB Melchíades Bonifácio Espíndola e a EEF Gervásio Teixeira Fernandes, administradas pelo Estado; e a Escola Municipal José Réus da Lagoa dos Freitas e Escola Municipal Professora Amélia da Silva na Barra Velha, administradas pelo Município do Balneário Rincão.

Ao todo 02 escolas da rede estadual e 02 escolas da rede municipal; além das creches. As escolas fornecem as séries iniciais do Ensino Fundamental. Apenas a Escola Básica do Balneário Rincão oferece o ensino Fundamental e Médio. O curso superior é oferecido em Criciúma, na UNESC, e também  no município  de Içara onde há uma unidade de Ensino Superior da UNISUL.

O comércio, na sede do Balneário Rincão, é acessível a todas as comunidades, já que praticamente todas as comunidades são bem servidas de ônibus.

No sentido religioso, as igrejas católicas do Balneário Rincão estão ligadas à Matriz São Miguel de Vila Nova, que é dirigida pelos padres Silvestre junkes e José Sipriano. No Distrito do Balneário Rincão temos as seguintes capelas: Capela Nossa Senhora dos Navegantes, do Balneário Rincão; Capela Sagrada Família na zona sul do Balneário Rincão; Capela de Santo Antônio, da Barra Velha; Capela de São Jorge, de Lagoa dos Esteves; Capela Nossa Senhora Aparecida, de Pedreiras; Capela São Sebastião, de Urussanga Velha; Centro catequético Santa  Rita de Cássia, Lagoa dos Freitas. Temos também no perímetro do Distrito do Rincão os cemitérios de Urussanga Velha, Pedreiras e Lagoa dos Esteves.

 A segunda profissão de fé religiosa  é a Assembléia de Deus, com igrejas em Urussanga Velha, Pedreiras, Balneário Rincão, Barra Velha, Lagoa dos Freitas; e outra na sede do Distrito. Depois há igrejas da UNIVERSAL, PENTENCOSTAL, DEUS È AMOR, entre outras.

As atividades econômicas, nas localidades integrantes do Balneário Rincão ainda mantém tendência agrícola, sobressaindo-se a fumicultura, a as lavouras de milho e melancia, direcionadas para o consumo dos veranistas, assim como vacas leiteiras e pecuária de corte  desenvolvida nas localidades de Urussanga Velha, Faxinal e Lagoa dos Esteves.

Em relação aos cuidados com a saúde, o Balneário Rincão conta com atendimentos médicos nos postos de saúde das comunidades de Pedreiras, Barra Velha, Lagoa dos Freitas; tendo inclusive uma clínica particular, Clínica Nossa Senhora dos Navegantes que mantém um  hospital.

Na sede do Distrito está a prefeitura com seus órgãos governamentais; a delegacia de polícia; banco; correio; o Museu Arqueológico N. Sra. dos Navegantes; o centro Comunitário Rincão, que abriga os clubes de mães, clubes de idosas e clube de jovens; um coral que se faz presente nas localidades quando solicitado; além da pastoral da saúde, da pastoral da criança e da pastoral da juventude. Outras entidades como o Lions Clube, a rádio comunitária, também funcionam na  sede do município. O mirante da caixa d’água contém o centro de eventos Profª Joana da Rosa faz parte de um ponto de embelezamento da cidade.

Balneário Rincão foi elevado à categoria de distrito no dia 31/05/95, na administração do prefeito Arthur Zanolli. O primeiro subprefeito foi o Sr. Olírio José Lino. Em 1997, na administração do prefeito Deobaldo Donato Pacheco, foi nomeado José Oscar da Rosa como 2º subprefeito do Balneário Rincão. Na sequência das administrações outros subprefeitos administraram o Distrito.

Hoje o Balneário Rincão é administrado pelo Prefeito Décio Gomes Góes, primeiro prefeito eleito pelo povo, e tem como vice-prefeito o Sr. Olírio José Lino. Fazem parte da Assembleia Legislativa os vereadores: Pedro Lino, Charles da Rosa, José Eloir do Nascimento, Airton Valvite Ferreira, Nilton….. Mauri Viana, Luiz Carlos Pinto , João Pícolo,  Edmilson Braz.

Faz parte da História rinconense os representantes do Legislativo municipal que elegeram-se, ainda,  pelo município de Içara: vereadores Natalício Felipe pela ARENA; Pedro Borges pelo MDB. Já na condição de Distrito,  os vereadores Antenor Nascimento da Rosa pelo PMDB;  Olírio José Lino pela PPB; Francisco Hortêncio Mota pelo PFL; Gentil Dory da Luz pelo PMDB; Jairo Celoy Custódio pelo PMDB. Para o poder executivo a comunidade do Balneário Rincão elegeu para  Prefeito de Içara,  Deobaldo Donato Pacheco para a gestão 97/2000 e o  Sr. Naelti Vianna que foi o vice-prefeito de Heitor Valvassori, prefeito de Içara.

De caminho do mar, onde carretas toldadas iam e vinham, fazendo o transporte pela única via que ligava o Sul ao resto do País, até os dias atuais,  o Balneário Rincão é um marco precioso no contexto histórico do estado de Santa Catarina e do Brasil. Abrigando hoje em sua área  as sesmarias distribuídas aos casais do arquipélago doa Açores, em 1770, que formaram as comunidades de Urussanga Velha, Pedreiras, Faxinal, Lagoa dos Esteves e Barra Velha,  portas de entrada dos habitantes  afros e açorianos, podemos dizer que é o berço que originou o  município mãe e seu filho emancipado.

Foram estes primeiros habitantes laboriosos, que com o cultivo da mandioca, fabricando a farinha embarcada na estação do km 47, impulsionaram a economia e fizeram florescer os 299 km² das terras das palmeiras, hoje dividido em dois municípios, Içara e Balneário Rincão.

As lembranças mais saudosas para os que conheceram a Praia do Rincão, em tempos mais idos, é a porteira que fechava os cômoros. Nos invernos de geada brava, os moradores das redondezas soltavam o gado para pastarem soltos na orla marítima.

As geadas que danificavam as pastagens, mais para o interior do município, não atingia a faixa entre o mar e as lagoas. Mais tarde, com a passagem da estrada para automóveis, a porteira foi substituída por um mata-burros que permitia o tráfego livre dos veículos e impedia que bovinos e equinos saíssem dos cômoros. Só quando o inverno terminava é que os colonos, envolvidos com as farinhadas, vinham recolher o gado que levavam para as suas propriedades onde as pastagens já tomavam o viço no calor da primavera.

Outra recordação é a casa do sindicato, com muitos quartos e uma ampla área abrigava as famílias mineiras nas férias ou nos finais de semana. Todo associado do sindicato tinha direito em usar a casa.  Ficaram as lembranças e também o empenho árduo do rinconense para a projeção do Balneário Rincão no espaço nacional, como uma das mais belas praias do litoral catarinense.

URUSSANGA VELHA

Urussanga Velha foi a continuidade da sesmaria de Laguna adquirida em 1676, por Francisco de Brito Peixoto. Em julho de 1770, podemos registrar João da Costa Silveiracomo dono desta sesmaria, que se estendia desde o rio Urussanga até a Barra Velha ( 1º Livro de Sesmarias do Governo Da Capitania De S. C.). Portanto, é Urussanga Velha o lugar mais antigo do município, seguido de outras localidades litorâneas, e teve sua ocupação no final do século XVIII.

A construção de uma capela em achas de madeira, ou pau-a-pique, e coberta de palhas com o chão de terra batida foi a primeira prova de fé e união da comunidade. Ali eram celebrados os cultos religiosos, abrigando nos fundos o cemitério que muitas pessoas acreditam ser indígena e outros pensam pertencer aos povos europeus, já que a capela é símbolo da religião cristã. Para o Cônego Bernardo Philipe, São Sebastião é a mãe de todas as capelas da região, igualmente o seu cemitério.

Os moradores viviam da caça e da pesca que realmente era farta naquele tempo. Embrenhados na mata virgem, usavam o rio como caminho, para explorações, o mar como estrada para as comunicações e as coivaras para garantir a farinha para o pirão e a exportação. A partir de Laguna, a compra da farinha de mandioca era assegurada  pelo presidente da província para abastecer o exército, por ser alimento fácil de transportar, não sendo perecível e servindo como complemento na alimentação, quer como pirão ou farofa.  Para o vestuário, as famílias plantavam algodão que nos serões domésticos era fiado, e posteriormente levado aos teares e transformados em vestuários ou tecido para cama, mesa e banho.

Presume-se que os primeiros moradores de Urussanga Velha sejam alguns descendentes de preadores de bugres que por aqui se fixaram, ou desgarrados das bandeiras que exploravam os sertões. Há indícios, segundo a memória das pessoas mais antigas, de um possível quilombo entre Urussanga Velha e Jaguaruna. O lugar parece ter sido um ponto estratégico para a ocultação de escravos que fugiam das propriedades, ou marchavam para os combates na fronteira do Rio Grande do Sul; na região do Prata.

Tido como um dos mais antigos moradores de Urussanga Velha, Manoel Patrício Réus colocou seus escravos para a travessia de viajantes, e um alojamento que recebia o nome de armazém, onde depositava também a farinha que comprava dos colonos da época e também  da produção escrava[3]. Quando a freguesia de Nossa Senhora Mãe dos Homens passou a Distrito e Içara foi enquadrada  neste Distrito, pertencendo a jurisdição de Tubarão, município emancipado em 27/05/l870, pela lei n.º 635. 

Sabemos que Urussanga Velha influenciou na fundação da freguesia de Nossa Senhora Mãe dos Homens. O urussanguense, o Sr Manoel Patrício Réus fez parte da junta Paroquial de alistamento, juntamente com Antônio Francisco do Canto no ano de 1875, e em 1896 fez parte da administração judiciária, sendo sub comissionário de polícia no município de Araranguá. 

Em 1820, o naturalista francês August Sant Hillaire viajando em uma carroça, acompanhado por um índio civilizado, atravessou o rio Urussanga dando notícias de nossa gente, seus hábitos de vida e sua contribuição para as pesquisas.

A  vida social na localidade de Urussanga Velha até o ano de 1825, era na base de terços e novenas nas  residências dos poucos moradores. No ano de 1825 foi a época da primeira   virada para o mar e tinha o cemitério nos fundos. Estava localizada próxima a casa  dos Ferraz, na elevação acima da Sanga que corria para a lagoa. Por volta de 1850, segundo relatos de pessoas mais antigas, recolhidos pelo  Cônego Bernardo Philippi, a imagem de São Sebastião foi adquirida no Rio de Janeiro.

Seguiram-se outras imagens hoje presentes na capela: Nossa Senhora do Rosário, São José e os quatorze quadros da Via Sacra. A primeira capelinha de pau-a-pique foi substituída  por outra de madeira e já coberta de telhas. A construção da  terceira capela de alvenaria, com tijolos amassados a pé, no terreno próximo a capela, teve início  em 13/05/1905, ficando a servir até o ano de 1932, quando teve reformas e ampliações e ficou sendo a quarta capela.

Com a passagem da ferrovia foi feito, inicialmente, um esboço do percurso quase a beira mar, conforme aconteceu em toda a costa litorânea desde Imbituba. Houve a possibilidade da ferrovia passar pela localidade, mais propriamente pelo Rio Acima. Foi feita, então, a reforma na capela para acompanhar o progresso que parou o movimento da estrada do mar, com o movimento que a ferrovia trouxe a região sul. Primeiramente foi mudado o cemitério no ano de 1914. Ele foi transferido para o outro lado da estrada onde está até hoje.   E a capela foi reformada para dar acesso a estrada com destino ao Rio Acima e outras localidades.

Além da igreja que era um fator social, em 31-05-1898, o professor Salustiano Nunes de Mello que lecionava no Torneiro, passou a lecionar na comunidade de Urussanga Velha. Como Escola Mista de Urussanga Baixa, o professor lecionou até 12/12/1902, quando mudou-se para a localidade do Faxinal, no ano de 1903. Antes ele  ensinou seu sucessor, o professor Salustiano Antônio Cabreira, que assumiu como professor em 02/03/1909, lecionando até  a sua aposentadoria.

Como já falamos, a razão do povoamento de Urussanga Velha foi a agricultura, sendo destaque a mandioca e a cana, que nos engenhos era transformada em açúcar para o gasto. O restante ia para o alambique e era transformado em cachaça. Toda produção era levada para Garopaba em carretas. Além da lavoura havia a pesca na lagoa, no rio ou andando um pouco mais, as pescarias no mar.

Os pescados e os frutos do mar eram a base da alimentação das pessoas, além da caça que era farta. Nesta época o rio não tinha sido poluído pelas águas de carvão, e a pesca no rio era abundante. A lagoa também era farta, principalmente na época da tainha corceira que vinham pela barra e subiam para a lagoa e o rio.       

Urussanga Velha, a princípio cultivada por escravos, possuía um engenho de farinha e engenho de cana, onde funcionava também o alambique, como marca da presença de posse européia. No início do século XX instalaram-se em Urussanga Velha os irmãos José, João e Gervásio Teixeira Fernandes, descendentes de açorianos fixados na freguesia de Nossa Senhora do Rosário, residentes na localidade do Imarui.  Assim, além dos engenhos de mandioca e cana, que já funcionavam, foi instalada uma serraria aproveitando a sanga que ia dar na lagoa. Instalou-se também uma palhoça que trabalhava as palhas de butiá que eram enfardadas e embarcadas com destino  ao Rio de Janeiro, para a confecção de colchões e estufados.

No princípio, a força da produção da localidade de Urussanga Velha era o braço escravo.   Naquela época, quase todas as famílias tinham terras legalizadas e possuíam engenho. As carretas saiam carregadas de farinha de mandioca, cachaça ou fardos de palhas.

A população crescia e espalhava-se ao longo das sesmarias, formando novas comunidades. As estradas eram melhoradas com os serviços dos proprietários, fazendo a comunicação entre as comunidades. As matas, já derrubadas, permitiam o uso do arado em alguns pontos. As carpideiras, tracionadas pela força dos bois apareceram como recurso inigualável. A aranha passou a ser o meio de transporte das famílias mais abastadas, para os passeios e viagens. As chácaras forneciam além do café: ameixas, laranjas, goiabas, bananas e nozes para sabão.

Tudo era feito artesanalmente, nada havia de industrializado para uso das comunidades. As minas de carvão de Rio Acima foram fechadas  dia 20/12/1960, dando uma queda na população. Os mineiros que quiseram acompanhar a mina  passaram a residir em Criciúma. Outros mudaram para as minas de mineração  de Içara, já explorada por João Macari.

A terra catarinense não conheceu a sociedade colonial que vicejou noutras paragens. O interesse em descongestionar os domínios paulistas superlotados, fez com que fossem oferecidas as terras do sul às famílias que se dispunham acompanhar um capitão, ou chefe, seduzidos de melhores quinhões ou honrarias; muito cobiçada na época.

A maioria dos que receberam os favores de concessões não contava com situação econômica folgada, mas o desejo de alcançá-la motivou a sua transferência para o sul, acompanhando os fundadores. Uma grande cultura exigia dispêndio de capitais respeitáveis para a época, e por isto as sesmarias de nosso município, apesar de datarem da época de fundação  das cidades mais antigas do Estado, não tiveram desenvolvimento que levassem a região à notoriedade. Ou que favorecesse  o enriquecimento dos sesmeeiros.

Iniciou-se, assim, o regime da pequena propriedade, logo que surgiu o trabalho livre. Múltiplos fatores contribuíram para que a imigração lusitana, a única permitida na época, não apresentasse um desenvolvimento maior, malogrando uma série de iniciativas havidas. As concessões divididas entre herdeiros das populosas famílias, ou o abandono das terras, deslocaram as famílias para as sedes com atividades do comércio ou  atividades do mar. Assim, o centro urbano aumentou e a zona rural decaiu, como  vem acontecendo em nossos dias, nada sendo feito para evitar o êxodo rural.

No início do ano de 1900, Urussanga Velha e as demais localidades litorâneas eram conhecidas e a agricultura movimentava os carreteiros até o porto de Garopaba, ou outras localidades onde havia necessidade de comércio. Urussanga Velha já possuía escola, capela, vários fogos (residências), animal para o trabalho, escravos já alforriados. Tropas ainda passavam pelo povoado, seguindo a jornada. A estrada do mar ligava o trânsito entre o sul e o resto do país. Urussanga Velha não estava mais anônima. Viajantes traziam e levavam novidades ao lugarejo.

O professor Salustiano Antônio Cabreira junto a outros moradores, organizaram a comunidade. O cartório chegou até Urussanga Velha por intermédio de Donato Paladini que, juntamente com José Fernandes Teixeira mediram os terrenos e legalizaram-nos através das escrituras. As sobras de terras foram vendidas trazendo mais famílias para as localidades. Algumas pessoas não tendo dinheiro para legalizar suas terras, acabaram entregando-as e outras ficaram em dívida com os legais adquirentes das terras ditas devolutas. Isto fez com que aparecessem os impostos no município de Criciúma.

No dia 28 de maio de 1933, com a presença do juiz de direito João de Luna Freire sob o decreto nº334 foi elevado Urussanga Velha a distrito com o nome de Distrito de São Sebastião. Depois, como era homônima ao São Sebastião de Gravatal, município de Tubarão, passou a ser chamado Distrito de Aliathar Martins, homenagem feita ao piloto morto na localidade de Lagoa dos Esteves, no acidente com o hidroavião machi 9,do RJ. 

Como primeiro intendente, tivemos o Sr. Gervásio Teixeira Fernandes, juiz de paz Aristides Silva, delegado Rosalino Teixeira Fernandes, agente do correio Sra. Serafina Joaquina da Conceição. O segundo juiz de paz foi o Sr. Leonel Figueira e o delegado, o Sr. Leopoldo Benevenuto.

É a lei do progresso que às vezes faz aparecer do nada, ou desaparecer do tudo. O Distrito de Aliathar Martins deu lugar ao Distrito de Içara, ficando agora somente como localidade de Urussanga Velha com seu padroeiro, São Sebastião e sua  gente simples e pacata nos seus afazeres rurais. Resta a saudade dos dias mais florescentes, de quando era administrado pelo Intendente Gervásio Teixeira Fernandes.

Da localidade de Urussanga Velha surgiram outras como: Rio Acima, Lombas Pedreiras, Sanga Funda, Urussanga II, Vila Alvorada. São estas localidades prolongamento da mesma povoação ocorrida  na época como expansão de propriedades.

PEDREIRAS

Para falarmos de Pedreiras precisamos ir a uma data bem remota, no início da fundação de Urussanga Velha, pois Pedreiras era integrante da sesmaria e dela resultou as várias comunidades.Entendida como Lombas Pedreiras e para outros por Urussanga Velha, entre as duas localidades surgiram as localidades de Serraria, que levou este nome por causa de uma serraria que foi montada na sanga que corria para a lagoa da Urussanga Velha; e Terra Firme, onde fixou-se a família Carola, ou Silva, de origem açoriana. Família que segundo tradição oral deve ser a primeira moradora de Pedreiras.

A família Silva sempre esteve presente em eventos de Urussanga Velha, dizem que tinha posses e carretas de transportes para Garopaba, de onde traziam mercadorias sob encomenda para Urussanga Velha e outras localidades. Moravam em uma casa assobradada, de pedras. Família respeitada e que tinham familiares no Rio Grande de São Pedro.

O casal voltou para Laguna depois de venderem para Gervásio Teixeira Fernandes: terras, comércio e o carreto. As filhas casaram e as heranças foram sendo divididas ou vendidas e o nome Carola perdeu-se no tempo. Vieram  então as famílias: Silveira, Réus, Marcelino, Cardoso, Sabino, Carlo, Ferraz, Rosa, Ferreira, Inácio etc. Açorianos vindos de Vila Nova, Imbituba, Penha,  Imaruí. Chegando desde a época de 1820, alguns como donos outros simplesmente ocupando as terras devolutas.

As famílias mediam suas terras do mar para o interior, com algumas braças de largura, sentindo-se a importância da proximidade entre os vizinhos. Ali faziam suas roças de mandioca que era transformada em farinha e vendida o excedente para os portos de Laguna ou Garopaba; além do feijão, milho, algodão, temperos, legumes, cafezal, laranjal.

As mulheres trabalhavam durante os serões e madrugadas, fiando e tecendo roupas de uso da família ou de encomendas. A alimentação era à base do pirão com peixes, ou carne na janta e ceia, para o almoço geralmente o arroz cozido, as paçocas ou os produtos da mandioca como:   Broas, corujas, beiju, cuscuz etc.

Não havia muita produção agrícola, até porque a população era pequena e  produtora de sua sobrevivência. Numa comunidade açoriana de hábitos pacato e hospitaleiro, quem tinha repartia com quem não tinha. O costume de vender o que sobrava não fazia parte da maneira de viver da comunidade. Era comum a família abrigar outra família que chegava, e repartir terras para lavouras. Os pescadores também repartiam na vizinhança seus pescados. A farinhada era quase sempre feita em mutirão. Tudo era feito na base do comunitário, até mesmo as bodas os casamentos e as festas. As mulheres mais experientes davam as ordens e as outras seguiam à risca, as receitas de pão de ló, broas, sobremesas, caldos de galinha etc.

Uma pessoa muito lembrada foi a senhora Alexandrina  de Souza Silveira, prendada na cozinha ou no tear, aprontava desde o enxoval e roupas dos noivos, até os banquetes; e por isto era sempre procurada por todas as localidades, desde Laguna até Araranguá. Moradora em Pedreiras desde seu casamento, na época de 1870, foi uma presença inesquecível em festas ou casamentos.

Ela se colocava a serviço da comunidade com suas habilidades em tecelã de linho ou algodão, rendeira, costureira e doceira. Frequentadora dos eventos sociais, ela era a companhia das filhas, parentes e vizinhas, que  não podiam apresentar-se sozinhas nas diversões. Casada com Cândido Joaquim Silveira, bem cedo ficou viúva. Sozinha criou a família que continuou no município, unindo-se em casamentos com outras famílias.  

 A localidade de Pedreiras era visitada por caminhantes que faziam o caminho do mar, passando pelos desvios quando a barra do Torneiro não dava vau. Então os viajantes passavam pelo Retiro e chegavam à Pedreiras, costeando a linha do arame (linha telegráfica), seguiam para Araranguá. Se viessem de Araranguá e os brás não dessem passe na Barra Velha, então costeavam a lagoa da Mãe Luzia, seguindo a linha do telégrafo, ou estrada do arame como era conhecida, passavam por Lagoa dos Esteves, Pedreiras e seguiam pelo Retiro, até encontrar novamente as praias, depois da barra do Torneiro.

Como Pedreiras era conhecida também a lagoa dos Freitas, (antiga lagoa da Mãe Damiana ou lagoa do Zé Réus como era também conhecida na época). Desde o mar até no rio da Pedra, tudo estava enquadrado na sesmaria adquirida em 1870, pela família Silveira e Réus. Havia já os moradores, desgarrados das tropas do exército que iam e vinham do sul para o norte, ou do Norte para o Sul, tentando segurar a posse das terras do Sul, desde Laguna até o Rio Grande, para a Coroa Portuguesa.

Os voluntários que lutaram no Sul com direitos a posse de terras, principalmente os baianos,  e o0s construtores da Casa da Nação foram encontrados instalados nos terrenos de Pedreiras e arredores; Faxinal, Ausentes. Aqui constituíram famílias com os afro-brasileiros já fixados, ou com os açorianos vindos para seus terrenos, designados em doações pelo governador da Província.

Entre a lagoa do Zé Réus e as Lombas, nos campos de areia, havia a cancha da Marambaia. As carreiras de cavalo movimentavam pessoas de várias localidades litorâneas, dando destaque à comunidade. O Sr. Gervásio Teixeira Fernandes foi o líder político de toda sesmaria. Comerciante abastado, e atuante na comunidade trouxe benefícios como a escola, onde seu genro atuou com regente, o professor Rosalino Teixeira Fernandes, seguido da professora Joana da Rosa Santos, e da irmã, a professora Ana da Rosa de Jesus.

Por volta de 1959, começaram a solar a estrada  no trecho Pedreiras Rincão; por ordem da administração de Criciúma e com a contribuição das pessoas de Pedreiras que pagavam seus impostos em dias de trabalho na estrada. O Jr. Jacó Victor da Cruz foi um dos  mestres de obra da pavimentação rústica com barro argiloso, na década de 60. Hoje esta rodovia é pavimentada  e recebeu a  denominação de SC 444. A SC 444 faz a ligação entre o Balneário Rincão e os demais municípios, que se dirigem para desfrutar a suavidade da orla marítima na temporada de veraneio.

Além da cancha de corridas de cavalos, o salão do Sr. Francisco José Cardoso (Chico Joca), Clube Recreativo 12 de Julho, era o ponto de diversão da juventude de Pedreiras e outras localidades. Como salão registrado, apresentava bailes, domingueiras, dramas; além de passos de danças trazidas pelos imigrantes do além-mar.

Em determinadas horas da noite, servia-se o café. O dono do salão então passava uma salva onde os moços davam  uma quantia, para ajudar na despesa do café ou do gaiteiro quando era contratado. Rendimento não havia, somente a vontade de oferecer uma diversão saudável à juventude.

As manifestações folclóricas eram fortes na comunidade: terno de reis, boi de mamão, Bandeira do Divino, dança de São Gonçalo eram recebidas e agradecidas com mesa farta e a prenda esperada  pelos foliões. Ainda hoje Pedreiras guarda um forte apego as estas manifestações como boi de mamão e terno de reis.

No início de século XX, chegaram novas famílias, entre elas a família da Luz que continuou com comércio substituindo Gervásio Teixeira Fernandes, que se retirou para Criciúma.

A fé religiosa da pequena comunidade levava os fiéis a frequentarem a capela São Sebastião de Urussanga Velha, onde eram membros da irmandade. A mesma fé motivou as pessoas de Pedreiras para contribuírem com a construção da capela  de N.S. dos Navegantes, na Praia do Rincão, já que a comunidade com hábitos pesqueiros fazia  frequência no  Rincão.

No ano de 1968, a comunidade de Pedreiras mobilizou-se para a construção da capela que tem como padroeira Nossa Senhora Aparecida. O terreno foi doado pelo Sr Luiz Gustavo da Luz. As pessoas passaram a promover festas com novenas e bailes para arrecadação do dinheiro para pagar a primeira capela e o salão. Ambos construídos em madeira fornecida pelo Sr. João Bonifácio que tinha madeireira em Sanga Funda. A segunda capela, foi construída em alvenaria em 1980, além do salão que  passou a proporcionar diversão e abrigo ao Centro de Educação Infantil.

Durante o tempo de mineração, os moradores de Pedreiras e comunidades vizinhas saíram para as operárias, e hoje, com a aposentadoria estas famílias voltaram para Pedreiras, bem como outras famílias que fazem com que o bairro cresça em densidade demográfica; crescendo assim o aspecto de comunidade. A escola iniciada no início do século XX é hoje Escola de Ensino Fundamental completo, tendo por Patrono Gervásio Teixeira Fernandes.

O comércio, em franco desenvolvimento, tem supermercados, materiais de construção, posto de gasolina, bares, lojas, farmácia, entre outros. A capela N.S. Aparecida, circundada pela Praça Gustavo Laurindo da Luz, dá ao bairro Pedreiras um aspecto urbano e harmonioso.

Pedreiras, localidade mais antiga em militância política, teve desde os primórdios da emancipação do município de Içara, representantes no legislativo. Primeiramente o Sr. Gervásio Teixeira Fernandes candidatou-se a vereador pela sigla PTB, representando Içara que era distrito de Criciúma, levando 90 votos, ficando como suplente.

Em 1962, na primeira eleição do município de Içara, Vital Daniel Brocca foi candidato novamente pelo PTB, não se elegendo neste Pleito. Candidato novamente no ano de 1966 foi eleito e representou Pedreiras.  No ano de 1988, concorreu a uma cadeira no legislativo, pelo Movimento Democrático Brasileiro o vereador Gentil Dory da Luz, ganhando por três mandatos

Pedreiras teve seus políticos eleitos pelo partido de esquerda, e nas urnas o resultado mostrava que o povo tinha histórias e ideias  esquerdistas; mesmo o vereador Lauri Hildebrando da Luz, foi eleito representando Pedreiras no pleito de 1976, pelo partido do MDB.

O bairro Pedreiras tem hoje: o salão comunitário, a capela Nossa Senhora Aparecida, a E.E.F Gervásio Teixeira Fernandes, a praça Gustavo Laurindo da Luz, o campo de futebol E.C “Brasil Pedreiras”, discoteca, posto de saúde, diversos estabelecimentos comerciais, farmácia, bar, fábrica de móveis, posto de gasolina e um povo risonho e hospitaleiro.  Como religião, além da católica há a Assembléia de Deus onde é professada a religião em data bem remota.

Servido pela SC444, que dá acesso ao Balneário Rincão, a Rodovia Jorge Fortulino da Silva que dá acesso às lagoas, camping, complexo hoteleiro das lagoas; pela. O bairro Pedreiras dá também  acesso à Urussanga Velha pela ICR  353.

Com a economia ainda sedimentada na pequena lavoura e pecuária, com a pesca de subsistência, e operários braçais dedicados à construção civil, Pedreiras guarda lembranças de heróis anônimos  que lutaram pela sobrevivência de nossas gerações e da cultura açoriana, quer na labuta do dia-a-dia , quer no trabalho, na fé ou no amor.

LAGOA DOS ESTEVES

Lagoa dos Esteves foi a segunda sesmaria em data de fundação. Tem quase a mesma idade de Urussanga Velha e o primeiro sesmeeiro foi Estêvão Bernardino da Silva. Fixados às margens da lagoa que deu origem à localidade, Bernardino Estêvão da Silva, Manuel Estêvão da Silva, Antônio Estêvão da Silva e Francisca Estêvão foram os primeiros moradores. Em meio a grande gleba da sesmaria e os terrenos arenosos, a família Estêvão tinha como limites, o mar e o Morro Estêvão que faz divisa com Criciúma.

A comunidade de Lagoa  dos Esteves é a comunidade que permaneceu mais longo tempo em isolamento, e a que menos se desenvolveu devido as dificuldades das areias, fazendo com que novas gerações migrassem formando novas comunidades como Faxinal, Coqueiros, Campo Mãe Luzia.

Distante do mar 3 km, a comunidade de Lagoa dos Esteves plantou seu núcleo nos meados de 1850, quando membros da família Estevão, acompanhados de alguns escravos chegaram às margens da lagoa.

Como as demais localidades da faixa litorânea, Lagoa dos Esteves é caracterizada por terrenos de domínio de cobertura sedimentar cenozóica. Composta por areias quartzozas médias com depósitos fossilíferos formado no pleistoceno,  em ambiente lacustre com grande material orgânico, de formação quaternária e pela formação Itapoã, nas seqüências dos morros onde faz limites o município de Içara e o distrito do Balneário Rincão.

A vegetação nativa (hoje já extinta), da localidade de Lagoa dos Esteves está incluída na mata atlântica, com uma variante de espécies raquíticas que formam os capões, com vegetações características de terrenos arenosos, próximos ao mar. Entre as espécies vegetais, o mais completo para o homem fixado naquelas paragens era o butiazeiro.

Servia para o artesanato, desenvolvido entre as mulheres como os chapéus, e a palha que era vendida em palhoças e depois embarcada nos portos. Havia também as espécies medicinais, e os cipós e taquaras usados nas cestarias que o homem usava nas lavouras e safras.

Vivendo nos domínios dos extintos índios tupis-guaranis dizimados pelos bandeirantes, os moradores logo que chegaram plantaram seu marco de fé religiosa. Construiram uma capelinha rústica, feita de pau-a-pique e coberta com palhas, com chão de areia no, alto do morro onde hoje está o cemitério. A pequena capela estava virada para o mar, e presenciou toda movimentação da estrada do mar até o século XIX. Dedicada a São Jorge, Santo de devoção da família Estêvão, que trouxe da distante ilha dos Açores a relíquia feita em bronze, foi cultuado como padroeiro da pequena e isolada capela.

Algum tempo depois, foi mudada a igreja para o lugar do cemitério e logo em seguida, com a passagem da linha telegráfica criando a estrada do arame, a capela acompanhou a trajetória. Assim tornou-se a terceira capela, onde hoje está o salão paroquial. Vendo que a capela era pequena para o número dos devotos, e que as festas traziam muita gente, fez-se uma quarta igreja construída pelos irmãos, José e Ângelo Lucnna. Construtores que construíram também a casa de Deca Estêvão e Amaro Cardoso, na Ponta da Lagoa, bem como o túmulo de um filho de João Caixeiro, no cemitério da Lagoa dos Esteves. Um fato até admirado na época, devido a distância da comunidade e as sérias dificuldades de se trafegar pelas areias, para trazer o material empregado nas construções.

A primeira capela tinha sino, porém não possuía torre sinaleira. O sino estava colocado num lugar de fácil acesso, pois era batido com um martelo. Com a construção da torre na capela, foi adquirido um novo sino  que pudesse ser puxado com corda do alto da torre, onde foi colocado para anunciar as missas, as procissões, as mortes, os enterros etc. Todos os acontecimentos eram anunciados pelo sino que para cada notícia tinha uma batida diferente, e que o povo sabia interpretar. Além das atividades sociorreligiosas, o sino  também tocava as seis horas da manhã, ao meio dia e as seis horas da tarde.

Socialmente as festas religiosas era o maior destaque, especialmente a festa de São Jorge, celebrada no dia 23 de abril. A festa do padroeiro trazia gente de todas as localidades, especialmente do Rio Grande do Sul, para onde foram muitos moradores, ou filhos dos primeiros moradores. As novenas, em número de nove, com missas e arrematação de prendas, antecipavam o grande evento que começava com a missa festiva, pela manhã e a procissão à tarde. Uma cavalhada guiava a procissão, levando o estandarte de São Jorge. Homens vestidos a caráter, com belas cavalgaduras em arreios reluzentes formavam o cortejo, seguidos dos fiéis que acompanhavam a procissão a pé, entoando preces, cantos e pagando promessas de graças alcançadas.

Foi por uma graça alcançada que a nova imagem de São Jorge foi doada à comunidade, substituindo a pequena imagem de bronze trazida pela família Estêvão. O senhor Jaime Amâncio, natural do Olho D’água estando doente foi procurar recurso em Porto Alegre. Então fez a promessa e como foi agraciado mandou fazer a imagem e doou para os fiéis da comunidade.

 Para a festa de São Jorge, as famílias vinham na véspera, em carros de bois. Além dos familiares traziam alimentos para ser feito nos fogos de chão, roupas em canastras. As costureiras traziam as roupas de festa para terminar lá mesmo, enquanto moços e moças, depois da novena, participavam do baile que para a juventude era o ponto alto da festa. As famílias procuravam os engenhos para pernoitarem, junto aos carros de bois. Os bailes eram realizados, geralmente, no salão de Donílio Estevão. No dia seguinte a sua casa transformava-se em uma espécie de restaurante, onde eram servidas as refeições para quem vinham de fora e não traziam a família.

Na tarde do domingo festivo era realizada a domingueira, com os gaiteiros: Abílio e Oriate Réus, Alcino Cruz, Antoninho Ferreiro, Anísio Silva; ou bandas de música de Jaguaruna ou Araranguá. Como atração durante as festas havia o boi-na-vara, a roleta, o bazar e as argolinhas.

Em tempo especial os folguedos de boi-de-mamão, cantoria de Reis e Bandeira do Divino eram bem recebidas na comunidade. Namorados e amigos usavam o Pão-por-Deus para firmar mais os laços de amor e amizades.

Os moradores de Lagoa dos Esteves, como em outras localidades içarense, plantavam a mandioca que transformavam em farinha nos engenhos. Depois eram vendidas para: Manuel Faustino de Garopaba, para onde os Estêvão faziam os carretos; para Gervásio Ferraz de Urussanga Velha; para Zé Bembem de Esplanada ou para Donílio Estevão; e mais tarde para Jorge Fortulino da Silva. Além do engenho de farinha, as famílias plantavam o cafezal que garantiam o café do gasto. A família Estêvão possuía  o engenho de cana, onde fabricavam o açúcar usado por eles e pela comunidade. Na comunidade era plantado o algodão, usado nos teares para a fabricação de roupas de trabalho, mesa e cama. Somente as roupas finas eram adquiridas em Laguna, e mais tarde nos comércios locais de: Donílio Estêvão, Amaro Cardoso, José Roque, Jorge Fortulino da Silva.

Com a necessidade de um terreno mais fértil, e também de estender as lavouras, as famílias passaram a fazer novas moradas no outro lado das lombas. Seguiram, então, um alinhamento entre os coqueirais, que entrava na vargem indo até o Rio dos Porcos; divisa com o município de Araranguá. Por esta razão, o lugar povoado passou a ser chamado de Coqueiros.

Os primeiros moradores de Coqueiros foram as famílias: Viana (aparentados com os Estêvão com o casamento   de Francisca e Florentino), Silva, Mello, Oliveira, Souza, Silvano. Todavia a comunidade de Coqueiros continuou a participar da capela de São Jorge, e de toda a vida social da comunidade de Lagoa dos Esteves.

E escola frequentada pelos moradores de Coqueiros era em Canjicas, com a professora Ignácia Pereira da Conceição que lecionou de 07/08/1891 à 15/02/1902. Alguns moradores mandavam seus filhos, que iam a cavalo até Canjicas para aprenderem a leitura, a escrita e a aritmética. Com a necessidade de alfabetizar os filhos, Amaro Cardoso, morador da ponta da Lagoa dos Esteves contratou o professor Luiz Pacheco, em regime particular. Quem podia mandou alguém da família para ter quem conhecesse a leitura e a escrita.

Porém a maioria das pessoas da comunidade permanecia analfabeta. Só mais tarde a comunidade de Coqueiros teve a escola tão sonhada por todos. A escola teve por patrono Manoel Fernandes Cardoso, um grande batalhador da comunidade de Lagoa dos Esteves, conhecido como Deca Estevão; e a primeira professora Maria Guedim.

Mais tarde, Lagoa dos Esteves teve a escola funcionando na Ponta da Lagoa. Depois de um tempo foi transferida para próximo à capela de São Jorge, e hoje está extinta devido ao processo de nucleação, passando para a comunidade de Barra Velha.

Faxinal, pode-se dizer que foi uma extensão de Lagoa dos Esteves e teve como primeiros moradores as famílias: Cabreira, Fernandes, Viera, os Fortulinos ou família Silva, Vila Nova, Inácio, Viana.

Sem estradas, sendo servido por trilhos entre os capões ou roças, a localidade  tinha pouco desenvolvimento e o isolamento deixava as famílias praticamente incomunicáveis. Razão que levou as pessoas, no ano de 1917, com o início da Primeira Guerra Mundial a fazerem os casamentos entre parentes ou pessoas conhecidas com medo que os filhos fossem chamados para a guerra. Casaram até os meninos de 12 anos com meninas ou moças, não importando a idade. O importante era ter uma certidão de casamento e não ir para a guerra.

Outro fato que alarmou a comunidade de Lagoa dos Esteves, foi o pouso do hidroavião Macchi 9, do Rio de Janeiro, com destino a Buenos Aires, no dia 16/08/1920, da companhia Ítalo-Brasileira de transportes aéreos. O hidroavião sofreu uma avaria, pousou na Lagoa e o aviador inglês, Jhon Pinder junto ao brasileiro, tenente Aliathar Matins tentaram consertar.

Quando parecia estar terminado o conserto, ao levantar voo, a hélice não funcionou. Aliathar Martins desceu e tentou acionar a hélice, mas foi atingido e sem equilíbrio caiu na água. O companheiro, Jhon Pinder tentando socorrê-lo acabou também  no fundo da lagoa. Por estarem usando roupas pesadas, e também por estarem calçados, não foi possível virem à tona, perecendo os dois nas águas da lagoa.

O fato tornou-se ruidoso, com conhecimento das autoridades. Um destacamento deslocou-se para a localidade, e procuraram os aviadores insistentemente acusando os moradores de homicídio. Interrogavam-nos sob fortes suspeitas de  assassinato. Até a esposa de Antônio Estevão, que tivera um parto recente e estava de resguardo, acabou morrendo (dizem) devido à pressão da força militar.

As buscas continuaram por onze dias, e no dia 27 de agosto, Aliathar Martins apareceu boiando nas águas da lagoa. No dia seguinte também apareceu Jhon Pinder. Certificando-se de que havia sido um acidente sepultaram-nos no cemitério de Lagoa dos Esteves. Tempos depois transferiram os restos mortais de Jhon Pínder, para o Rio de Janeiro. Os restos mortais de Aliathar Martins permaneceu no cemitério de São Jorge, e nunca foi transferido.

Pínder, que chegara a ser FLIGHT COMMANDER da ROYAL AIR FORCE de seu País, conseguindo vencer os riscos de vida em agitados combates nos céus europeus, da I Guerra Mundial, pereceu nas águas tranquilas de uma lagoa do município de Içara. Aliathar não chegara a ter a fama de Pínder, não tendo inclusive conseguido habilitar-se no curso de pilotagem, feito na Inglaterra em 1918, junto com os aviadores da Escola de Aviação Naval, mas era seu destino morrer na aviação.

No ano de 1949, a estrada de Coqueiros até a capela de São Jorge foi pavimentada com barro e perita, e o tráfego passou a ser feito pela Boa Vista para quem ia para a Içara. Em 1960, o trecho Pedreiras à Lagoa dos Esteves começou a ser pavimentado. O senhor Jorge Fortulino da Silva fez o trabalho de conscientização das pessoas que relutavam em aceitar o balizamento da estrada, não querendo que desviassem da estrada do arame.

Então o senhor Jorge Fortulino, como era conhecido, comerciante no Faxinal e comprador de farinha para o embarque na estação de Içara, saiu casa por casa e conseguiu conscientizar aos moradores.  Sua contribuição no trabalho da estrada é memorável, ajudou a medir e balizar a estrada, colocou além de seu caminhão o filho José Jorge da Silva, como motorista, a disposição da administração de Criciúma. Na administração do prefeito Ângelo Lodetti, foi solada o trecho Lagoa dos Esteves, Ponta da Lagoa (A estrada solada ia somente até a capela)  de São Jorge.

 

BARRA VELHA

 Em busca de riquezas, aprisionando índios para o cativeiro, alargando assim a conquista e a posse portuguesa na América do Sul, com a realização da estrada do mar ligando Laguna à Colônia do Sacramento em expedições sucessivas, estabeleceram-se os primeiros esboços de povoamento na orla marítima. Principalmente às margens dos rios caudalosos, que impediam o prosseguimento do viajante.

Ali também foi estabelecido um posto de passagem para viajantes e tropas, nas idas e vindas do sul e do norte, com a arrematação dos passos dos rios até Tramandaí, em favor dos cofres de Laguna. Assim, em 28/12/1773, a Barra Velha do Araranguá teve  designado por Laguna o major Antônio Tavares.

Em janeiro de 1816, voltando do Sul em visita pastoral, D. José Coutinho descreveu sua viagem desde Laguna até Rio Grande do Sul. Tendo pernoitado na casa do Major Antônio Tavares, Ele deixou em suas anotações, notícias de nossa Barra Velha:

O curato já é desmembrado, o direito de todo pé de altar sobre as 400 almas, desde Lagoinha até o Arroio da Cruz. No mais, esta capela parece-me mais bem instalada no Morro dos Conventos do que na Barra velha onde não vi senão charcos e areia.(Diário de D. José Coutinho).      

Nossas capelas, até então, tinham sido construídas nas elevações dos terrenos e Barra Velha era um lugar baixo, dado a inundações pelo capricho das marés ou as águas volumosas trazidas pelo rio Araranguá que desembocava na barra, com todos os seus afluentes aumentando consideravelmente o volume das águas causando os charcos e as enchentes.

D. José falou também da exploração das travessias dos rios que cobravam “para cada par de animais solto 20 réis; por um homem 40 réis; por um animal a reboque 80 mil réis; e por uma carreta, também 80mil réis”.  Na verdade havia muita exploração, e isto fez com que os tropeiros ansiassem por um desvio. O que acabou acontecendo com o nome de estrada da serra, desviando as tropas da estrada do mar e fazendo decair os postos de travessias dos rios.

Mais tarde, a barra do Araranguá assoreada fez três bras. As carretas já passavam com a maré baixa e o canoeiro da margem de cá do rio foi extinto, ficando somente o Sr Lino dos Santos na localidade de Araranguá.

Como um rio caudaloso e piscoso, o naturalista francês August Saint’Hilaire descreve a Barra Velha no ano de 1820. Utilizando-se de uma carroça e de um índio domesticado como fiel companheiro, nos primeiros dias de junho o naturalista pernoitou nas imediações de Barra velha, hospedando-se na fazenda do major João Antônio Tavares.  Nesta estada foi servido de uma excelente refeição, que disse vir acompanhada de uma suculenta farofa, uns preciosos peixes capturados no rio Araranguá que na época desembocava nas proximidades. Disse Ele que os catarinenses, na época, tinham por hábito, em sua alimentação, o consumo do peixe e da farinha de mandioca.

Como a faixa entre o mar e o povoado fosse margeada de uma espessa floresta, os primeiros moradores passaram a cortar as árvores para o preparo de coivaras e para o consumo da lenha nos fogões. Anos mais tarde os cômoros vieram, pela força dos ventos e sem nada para impedi-los, tomaram as terras de lavouras e taparam a barra, fazendo com que ela reaparecesse já  por duas vezes.

Quando a barra era navegável, com o rio Araranguá que favorecia a navegação fluvial, entravam na barra os barcos e vapores que fretavam diretos, para Laguna, cargas e passageiros. Quando a barra diminuiu o volume, dividiu-se em três bras,  as carretas que iam e vinham do sul para o norte, já viajavam tranquilos, desviando para costear a lagoa Mãe Luzia e pegar a praia na Barra Velha. Em épocas de cheias eles entravam no povoado da Lagoa dos Esteves, passando pelo Faxinal e Urussanga Velha. Outras vezes, as carretas acostavam esperando que a maré baixasse e o bras desse vau para a travessia sem perigo de perda das cargas.

No início, o povoado de Barra Velha era de ranchinhos de pau-a-pique. Todos eram caiçaras, e a organização de pescadores era na colônia de pescas, em Ilhas. No dia-a-dia, enquanto o homem pescava, ou preparava suas artes de pesca, a mulher do pescador ficava com a lida da casa, a educação dos filhos e fazendo as tranças de butiá para os chapéus de palha que eram vendidos, em dúzias, para os carreteiros ou para comerciantes como Amaro Cardoso, Lindaura da Silva Arceno ou João Batista Pacheco. Além dos chapéus, faziam também as esteiras para  uso doméstico e as tarrafas de pesca.

Entre as famílias mais antigas em Barra Velha, que se tem conhecimento, podemos citar: Lucas Euzébio, Antônio Roque, José Euzébio, Antônio Sebastião Lemos, Francisco André, Laurentino Berto, José Tereza, Júlio Izidoro, João Batista Pacheco e um pouco mais afastados a família Zanette. Todos eram pescadores, e tinham na sardinha o principal pescado que vendiam para Alcebíades Madeira, de Criciúma. Outras espécies como a papa-terra, bagre, corvina, anchova e tainha, eram mais para o consumo e a venda  para os agricultores das redondezas.

Muitas vezes as famílias ficavam vários dias sem conseguir pescar. Era o tempo do rafael, como se costumava dizer para espantar a tristeza. O  rafael era sempre trazido pelo mar grosso, correnteza d’água e vento sul forte, impedindo a pescaria e afastando os peixes. Já o vento nordeste era propício às pescarias e o minuano trazia os cardumes de tainhas.

Casa de comércio na Barra Velha, por volta de 1930, era somente a de João Batista Pacheco, ou João Caixeiro, apelido que recebeu por ser caixeiro de Amaro Maurício Cardoso, na Ponta da Lagoa dos Esteves.

João Batista Pacheco liderou a comissão para a construção da capela de Santo Antônio, no ano de 1940. Entretanto, a primeira missa foi celebrada em 07/02/1949, pelo padre José, do município de Araranguá. A primeira capela construída era em madeira, e os carpinteiros foram: Manoel Vila Nova, Olegário Vidal e Rafael Estêvão. A segunda capela foi construída também em madeira, no ano de 1958, em tamanho maior e teve como carpinteiros: José Antônio dos Santos, Manezinho Pacheco, Hermenegildo Adílio Pacheco. O sino foi oferecido pelo Sr. Petry, de Araranguá e, a primeira imagem de Santo Antônio foi oferecida pela família de Francisco André da Silva. O altar foi construído por Pedro Júlio da Silva e quem carregou a cruz na primeira procissão foi Serafim José Pereira.

Foram zeladores da capela, e da fé religiosa de Barra Velha: Rafael Estevão, Pedro Custódio da Silva, Líbera Erília, Geraldina Rodrigues (Que também foi professora) Maurina Damásia e Adelina Antônia Damásia.

No ano de 1966, os padres capuchinhos pregaram as missões e frei Dimas foi o pregador na Barra Velha. Em agosto de 1966, Jovino Antônio faleceu e seu corpo foi encomendado na capela de Santo Antônio de Barra Velha.

Na administração do prefeito Ascendino Pavei, no ano de 1970, a patrola chegou na Barra Velha para abrir a estrada municipal, ICR 350 e, a 15/01/1971, pela primeira vez o ônibus chegou à Barra Velha. Em 22/02/1979, chegou  luz elétrica trazendo os benefícios próprios que a eletricidade traz a uma localidade.

Usufruindo dos recursos como: transporte e energia elétrica, Barra Velha tornou-se conhecida. Porém não dispunha ainda de água potável de qualidade, pois na orla marítima a água é salubre. Além do gosto desagradável a água cria uma crosta ferruginosa, não sendo possível tomar ou lavar. A luta estendeu-se por anos, e o Sr Locir da Silva manteve uma espécie de cooperativa, fornecendo água  aos moradores, trazida da costa da lagoa dos Esteves. Mas a comunidade continuou sua luta, e a CASAN passou a fornecer água ao Balneário, que nos dias atuais toma conhecimento e ruma para competir com outros balneários.

A localidade de Barra Velha está a 9 km do Balneário Rincão e está enquadrado como área urbana do município. Sua estrutura é composta de escola; posto de saúde; capela católica e a Assembléia de Deus; comércios. São mostras de que a localidade cresceu e a comunidade mobiliza-se para o reconhecimento de suas belezas que não tardará a acontecer.


[1] Rios que foram arrematados em 1737 e com pequenos núcleos de povoação denominados Oroçanga Velha e Barra Velha no 1° livro de sesmarias do governo da Capitania de Santa Catarina.

[2] Outros afirmam que quem recolheu os pranchões foi o Sr. Jacó Victor Cruz e utilizou-os na estrada, vencendo as areias.

[3] Esta produção de farinha de mandioca por uma população negra é um dos indícios de um quilombo.